quinta-feira, 11 de março de 2021

Um poema de Luís Borja

 


Luís Borja, foto de Jacqueline Alencart




Tudo começa com o amor à manhã,

ao canto dos galos que buscam um nome à lua.

Tudo começa com a ternura das flores e suas pétalas de sangue.

Tudo, absolutamente tudo, começa com amor à saliva,

porquê somos feitos de saliva e barro.    

Somos a taça e o destino da terra.

Tudo, absolutamente tudo, começa com o calor do dia,

com o sorriso quente dos astros: o nascimento

do pai e do fogo.

Eu

que sou saliva e barro, planta e ternura,

compreendo que estamos embevecidos pela luz da manhã,

mas também, meu irmão, somos da noite,

da escuridão e da lua: a mãe.

Tudo começa no sorriso da taça e da raiz,

na oração do sangue que cantamos.

Tudo começa na terra e no suor,

na semente que nasce na palma da mão.

Tudo começa no sorriso noturno do delírio

e não

calamos a loucura nem a morte,

nem o tiro que quebrou os ossos da terra,

dos ossos que nasceram como pedras.

Então, tudo começa com a ternura entre as mãos

e com o ódio entre os dentes.

Tudo começa no sonho

dos pássaros e de seu grito que sangra.

 

Tradução de Álvaro Alves de Faria

 

*


    “Criar em Salamanca” lamenta o falecimento, acontecido há dias com o Covid 19, deste jovem poeta que sempre estará ligado à nossa cidade. Nascido em Ahuachapán (El Salvador, 1985-2021) ganhou a VI edição do prestigioso Prémio Internacional de Poesía Pilar Fernández Labrador - pelo seu livro ‘UMIT’, um dos 905 trabalhos procedentes de todos os países ibero-americanos - além de outros fazendo jus ao seu enorme talento.

   O poema que aqui se deixa foi traduzido em diversas línguas europeias e em outros idiomas fora da Europa.

Alfredo Pérez Alencart


2 comentários:

  1. Uma grande tristeza, caro amigo Alfredo. Uma grande tristeza, um belo poeta, como se pode ver neste poema que traduzi.Muita tristeza. A Terra está passando por uma provação.

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  2. Caro Álvaro, boa tarde. Subscrevo inteiramente o que diz! E, agora, uma sugestão amiga: que tal mandar-me um par de poemas seus, para eu dar a lume aqui no meu blog? Pois contra a adversidade, vale a poesia e a ética. Fico no aguardo e envio-lhe um firme abraço de boa saúde. O seu
    nicolau saião

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