quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

Um poema de M. Parissy

 


(Foto de Maria Olívia Santos)




A enchente da cidade da água


                   com o Nuno Rebocho, em Moura


Um pássaro reza frente ao rio Ardila.

O grande olho da noite

surge por entre quem sobrevive à enchente.

A água regenera o solo

como a ferida de um gato.

 

Queimado pelo ar

o pescador confessa que a água embebeda.

 

A paisagem púrpura

trabalha ao longo dos dias

para que o ofício de incêndio seja reluzente.

 

Há uma relação demorada

entre o aparelho da terra

e a nascente das águas.

É um conjunto que tolda madeira, sangrando.

 

A grande maioria das constelações são escarlates

têm uma força maior

enriquecem o pavor

de todas as coisas terrestres.

 

A carne sendo única

contrasta com os anéis do abismo.

 

E a terra, por fim

perde a inocência

 quando se criam palavras

e se ouvem nos campos a caminho de Moura.

Sacrificando-se perante a loucura

do clarão que inunda.

                                          (inédito, 2002)


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