No volume II
das “Obras Escolhidas” de Manuel Ferreira Patrício, republicamos, numa versão
devidamente revista, a sua Dissertação de Doutoramento – A Pedagogia de
Leonardo Coimbra: Teoria e Prática –, concluída em 1983 e posteriormente
publicada (“sem alterações”, segundo o próprio), pela Porto Editora, em 1992.
Pela sua extensão, esta é uma obra que teria que ocupar o espaço de um dos
volumes desta Colecção das “Obras Escolhidas” de Manuel Ferreira Patrício.
Sendo que, pela sua qualidade, esta é igualmente uma obra que mereceria sempre
o maior destaque – quer na história da hermenêutica de Leonardo Coimbra no
plano académico, quer na história filosófica do próprio Manuel Ferreira
Patrício, independentemente do facto, por si só significativo, desta obra ter
sido a sua Dissertação do Doutoramento. Com efeito, nesta obra, os dois eixos
principais da produção do nosso autor que referimos no Prefácio ao primeiro
volume (“a Teorização da Educação e a Hermenêutica Filosófica”) aparecem
inquebrantavelmente ligados entre si. Para Manuel Ferreira Patrício, a
verdadeira Teorização da Educação só poderá ser de matriz filosófica. E é por
isso que, nesta obra, tematiza “A Pedagogia de Leonardo Coimbra”, na “teoria” e
na “prática”, a partir dos fundamentos filosóficos leonardinos.
O mesmo fará,
nas décadas seguintes, a respeito de outros autores. Por isso, aliás, cedo se
tornou evidente para nós a inviabilidade de separar, nesta Colecção, os textos
de Teorização da Educação dos textos de Hermenêutica Filosófica. Decerto, há
textos em que o pendor está mais num dos eixos do que no noutro. Mas em todo
eles, diríamos, há essa interligação axial: em todos os textos de Teorização da
Educação, há uma clara procura de uma fundamentação filosófica (ainda que nem
sempre com remissão para algum autor específico – sendo que, em todos eles,
diríamos igualmente, paira a sombra luminosa de Leonardo
Coimbra e da sua razão poética como visão amorosa…).
Contrapolarmente, em (quase) todos os textos de Hermenêutica Filosófica há
sempre uma tendência para encontrar uma “pedagogia”, ou, como prefere dizer
Manuel Ferreira Patrício, uma “antropagogia”, não fosse essa, afinal, para o
nosso autor, a vocação maior da própria filosofia: a formação integral do ser humano,
a sua “plenificação”. E é também isso o que acontece, exemplarmente, nesta
obra: mesmo quando essa “pedagogia” (ou “antropagogia”) está (muito) submersa,
Manuel Ferreira Patrício faz-nos esse trabalho – faz-nos essa oferta – de
trazê-la à tona…
Para além disso,
como dissemos, esta é uma obra marcante na história da hermenêutica de Leonardo
Coimbra no plano académico – ao contrário do que foi acontecendo, como é
sabido, em círculos extra-académicos, como o designado “Grupo da Filosofia
Portuguesa”, onde Leonardo Coimbra nunca foi esquecido, desde logo pelos seus
discípulos José Marinho e Álvaro Ribeiro. Após as pioneiras Dissertações de
Doutoramento de Manuel da Costa Freitas (Momentum activitas subjecti in
cognitione iuxta Leonardi Coimbra doctrinam, 1954) e Ângelo Alves (O sistema filosófico de Leonardo Coimbra, 1962), Leonardo Coimbra não foi, de facto, um autor
muito estudado universitariamente – o contra-exemplo mais proeminente terá sido
o do estudioso brasileiro Miguel Spinelli, igualmente doutorado, em
1980, com uma dissertação sobre Leonardo Coimbra (A Filosofia de Leonardo
Coimbra: o Homem e a Vida, dois termos da sua antropologia filosófica, publicada,
no ano seguinte, pela Faculdade de Filosofia da Universidade Católica
Portuguesa). Com esta sua obra, Manuel Ferreira Patrício resgatou-o
desse injusto oblívio, abrindo o caminho para que, já neste século, outras
Dissertações de Doutoramento emergissem. Falamos, em particular, de duas: A
Ontologia integral de Leonardo Coimbra (2001), de Manuel Cândido
Pimentel, e A Metafísica da Experiência em Leonardo Coimbra (2011),
de Samuel Dimas.
Post
Scriptum: No que respeita a todo o
trabalho de digitalização e revisão da Dissertação de Doutoramento de Manuel
Ferreira Patrício, agradecemos, em particular, a Paulo Santos.
Renato Epifânio
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