segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Renato Epifânio, Sobre Manuel Patrício

 




    No volume II das “Obras Escolhidas” de Manuel Ferreira Patrício, republicamos, numa versão devidamente revista, a sua Dissertação de Doutoramento – A Pedagogia de Leonardo Coimbra: Teoria e Prática –, concluída em 1983 e posteriormente publicada (“sem alterações”, segundo o próprio), pela Porto Editora, em 1992. Pela sua extensão, esta é uma obra que teria que ocupar o espaço de um dos volumes desta Colecção das “Obras Escolhidas” de Manuel Ferreira Patrício. Sendo que, pela sua qualidade, esta é igualmente uma obra que mereceria sempre o maior destaque – quer na história da hermenêutica de Leonardo Coimbra no plano académico, quer na história filosófica do próprio Manuel Ferreira Patrício, independentemente do facto, por si só significativo, desta obra ter sido a sua Dissertação do Doutoramento. Com efeito, nesta obra, os dois eixos principais da produção do nosso autor que referimos no Prefácio ao primeiro volume (“a Teorização da Educação e a Hermenêutica Filosófica”) aparecem inquebrantavelmente ligados entre si. Para Manuel Ferreira Patrício, a verdadeira Teorização da Educação só poderá ser de matriz filosófica. E é por isso que, nesta obra, tematiza “A Pedagogia de Leonardo Coimbra”, na “teoria” e na “prática”, a partir dos fundamentos filosóficos leonardinos.

   O mesmo fará, nas décadas seguintes, a respeito de outros autores. Por isso, aliás, cedo se tornou evidente para nós a inviabilidade de separar, nesta Colecção, os textos de Teorização da Educação dos textos de Hermenêutica Filosófica. Decerto, há textos em que o pendor está mais num dos eixos do que no noutro. Mas em todo eles, diríamos, há essa interligação axial: em todos os textos de Teorização da Educação, há uma clara procura de uma fundamentação filosófica (ainda que nem sempre com remissão para algum autor específico – sendo que, em todos eles, diríamos igualmente, paira a sombra luminosa de Leonardo Coimbra e da sua razão poética como visão amorosa…). Contrapolarmente, em (quase) todos os textos de Hermenêutica Filosófica há sempre uma tendência para encontrar uma “pedagogia”, ou, como prefere dizer Manuel Ferreira Patrício, uma “antropagogia”, não fosse essa, afinal, para o nosso autor, a vocação maior da própria filosofia: a formação integral do ser humano, a sua “plenificação”. E é também isso o que acontece, exemplarmente, nesta obra: mesmo quando essa “pedagogia” (ou “antropagogia”) está (muito) submersa, Manuel Ferreira Patrício faz-nos esse trabalho – faz-nos essa oferta – de trazê-la à tona…

   Para além disso, como dissemos, esta é uma obra marcante na história da hermenêutica de Leonardo Coimbra no plano académico – ao contrário do que foi acontecendo, como é sabido, em círculos extra-académicos, como o designado “Grupo da Filosofia Portuguesa”, onde Leonardo Coimbra nunca foi esquecido, desde logo pelos seus discípulos José Marinho e Álvaro Ribeiro. Após as pioneiras Dissertações de Doutoramento de Manuel da Costa Freitas (Momentum activitas subjecti in cognitione iuxta Leonardi Coimbra doctrinam, 1954) e Ângelo Alves (O sistema filosófico de Leonardo Coimbra, 1962), Leonardo Coimbra não foi, de facto, um autor muito estudado universitariamente – o contra-exemplo mais proeminente terá sido o do estudioso brasileiro Miguel Spinelli, igualmente doutorado, em 1980, com uma dissertação sobre Leonardo Coimbra (A Filosofia de Leonardo Coimbra: o Homem e a Vida, dois termos da sua antropologia filosófica, publicada, no ano seguinte, pela Faculdade de Filosofia da Universidade Católica Portuguesa)Com esta sua obra, Manuel Ferreira Patrício resgatou-o desse injusto oblívio, abrindo o caminho para que, já neste século, outras Dissertações de Doutoramento emergissem. Falamos, em particular, de duas: A Ontologia integral de Leonardo Coimbra (2001), de Manuel Cândido Pimentel, e A Metafísica da Experiência em Leonardo Coimbra (2011), de Samuel Dimas.

   Post Scriptum: No que respeita a todo o trabalho de digitalização e revisão da Dissertação de Doutoramento de Manuel Ferreira Patrício, agradecemos, em particular, a Paulo Santos.

                                                                                           Renato Epifânio


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