É bom cheirar as mulheres. Cheirar as mães e as filhas. Cheirá-las
quando descem do autocarro, quando estão à espera, quando não se pentearam
ainda. Quando de mau humor recolhem os lençóis de repelão e sentem nelas a
grande miséria do dia, quando mandam alguém comprar sabão ou cebolas ou tomam
um copo. É bom cheirar de vez em quando a santa, oportunamente a puta,
valentemente a própria mulher. Há que cheirar a casa quando se veste, cheirar
as abelhas e o café quando já abalou. Cheirar o canto da porta e a serradura.
As folhas de rascunho, o mecanismo do guarda-chuva, o anel esquecido, o jornal
ainda morno. Há que cheirá-las quando se movem. Cheirá-las profundamente quando
se retiram. Cheirar as saliências da pedra, cheirar a sopa e a noz quando se
assustam. Há que cheirá-las sem ter medo dos seus bolsos, cheirar a sua
respiração e o seu vazio, o seu mar e a sua pesca.
É bom cheirar as mulheres e dizer: isto é
pó, isto é cera, isto é pasto.
(Tradução de
ns)
Sem comentários:
Enviar um comentário