quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Joaquim Saial, Os quatro elementos

 

Era ainda noite cerrada,
quando o poeta se levantou.
Urinou,
descarregou o autoclismo,
lavou as mãos,
bebeu água
e, através da janela, 
viu a chuva 
e o rio que ela engrossava.

O vento soprava ameaçador,
fazendo estalar o arvoredo
e a roupa esquecida nos estendais.
Abanava telhas,
águas-furtadas,
pára-raios 
e cata-ventos
e fazia remoinhos de folhas no ar.

Para aplacar a insónia,
o poeta colocou um tronco na lareira,
acendeu-a e acendeu nela um cigarro,
antes de ver uma reportagem na tv
sobre os incêndios desse Verão.

Já raiava a manhã,
quando a tempestade amainou
e ele saiu para a horta,
para sentir o cheiro da terra molhada 
e ver como o barro descido da encosta
lhe melhorara a propriedade,
tapando covas que antes tinha.

O sono voltou ao poeta.

Mas antes de adormecer de novo,
decidiu ali mesmo que o último poema 
do livro que estava a acabar
se intitularia "Os quatro elementos",
banda visual da sua insónia.


Sem comentários:

Enviar um comentário

Aos confrades, amigos, adeptos e simpatizantes

     Devido a um problema informático de última hora, não nos será possível fazer a postagem desta semana.    Esperando resolvê-lo em breve,...