SENTADINHO, PENTEADINHO
Uma
cara azul, pálida, ou se calhar
apenas
amarela, triste talvez como o som dos aviões que
passavam  bolas de luz 
pode dizer-se assim  O que
amava
nesses tempos  Olha dizia a Júlia  os figos o
       pardal a calhandra  Olha. E o carro passava na
estrada
um touro luminoso desconhecido   o calor
do
       Verão e a noite rasgada enorme   Mas ao longe
Uma
escuridão dentro   um corpo redondo um
soluço
   sentadinho penteadinho    As borboletas paradas no
castanho
daquele olhar   Fica tão feio
    o tempo a chuva sobre as árvores   a casa escura
                                 e depois   sempre sempre a vinha
    sentadinho, penteadinho  A criança que deitei à
                                  terra como semente
como pó
de
pedra. E assim é que era   o bom   pálido 
amarelo
     assustava-se um pouco   era um besouro entre
                                   paredes de
coelheira   de sementes
      as mãos firmes finas   mãos de antiga colhedora de
                 camomila. O burro com ar de
bom rapaz. Os
dois
andando dentro do túnel o pé do mais pequeno
       batendo arrastando   pálido amarelo   o escuro do
pai
ressoando ressoando  sentadinho,
penteadinho  não
antes
não depois   Um apelo sobre túneis    sobre
silhuetas
sobre caras   memórias acrescentadas   azuis de
      noites  
e  num ruído   o mundo.
Fica
tão feio   Como saber   como de que maneira um 
                       negrume medroso
um
negrume perto perto   Anos de viva
camomila   as
                           plantas têm outra
memória ainda que
sentadinho
penteadinho. Encantador o verde verde  o
escuro
do peixe morto  e
da
pedra da água   do esquecido sol
e
voava esvoaçava   as camionetas    ruas  
os tapumes
                 sobre um soluço   pálida 
pálida colhedora
de
pais   de um gole de vinho   de uma só estrela
          amarela andando voando no Verão
rasgado   na noite
azul   na noite dia
penteadinho
sentadinho. Fica tão feio disforme. Criança
                  de chão ressoante de olhos e
mãos viajando em
fundo
encanto mas   as mãos   as cidades do amor   molhadas
a
maravilha amarela folhas cobrindo-lhe   a
água descoberta.
           A água do pai   a pedra do peixe vivo   As
mãos   coisas da noite  no teu olhar um túnel   entre
                    paredes. As maçãs luminosas.
Sons ardendo no
tempo
da tarde. Sentadinho. Penteadinho. E a sombra
                                                                
toda  nos taludes
e
os homens os homens imensos e de súbito de repente
o
verde da chuva
o
pai a mãe o túnel   o pé batendo
ressoando   tão belo
na
noite amarela   na mão disforme   no Verão  
na porta
                                         do
peixe escuro.
                                           *   
Marcel Delpach nasceu
em 1970 em Créteil, Paris. Poemas dispersos em jornais e revistas. Editou
depois “Vacances”, livro em verso e prosa. Exerce a profissão de analista num
laboratório.
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