segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Um poema de Jacques Borel

 


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A ROSA

De uma a outra rosa vão e vêm as abelhas.
É o mesmo antigo dia de Verão no roseiral,
E eu respiro de novo na extensão virgem, ensolarada
Onde como sempre as borboletas estendem as suas asas de oiro
E param um instante entre os lábios da rosa
Vacilante contra o muro cheio de sol.

Um só murmúrio de junco, um só suspiro, um só sorriso
E nunca nada cessou de ser o que era. Existe ainda
este minúsculo farrapo de céu, esta fenda na parede
Uma andorinha que passa e sobrevive ao seu grito perdido
E o sorriso terno de minha mãe encolhida no seu vestido.

Rosa, fui eu alguma vez o hóspede do tempo?
Esta sombra de um perpétuo cipreste no meu coração
Foi mais curta ou mais longa?
Onde está o sol que nasceu e desapareceu
E a espuma dos dias mortos ao pé de anónimas encostas?

Muros do dia, porta perfumada, parede de pétalas,
Não há recordações, jamais algum presente se foi
Os mesmos olhos miram sempre no mostrador a mesma hora
A mesma mão tece e destece o mesmo eterno tapete
E nem a memória nem o adeus sabem já o que dizem
A esta criança eternamente curvada sobre a mesma rosa imóvel.
- Esta borboleta suspensa que não voou nunca.               

                                                                      Jacques Borel

                                                                Trad. ns


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