Nicolau Saião, Homenagem a Fulcanelli
ALEGORIA DO MUNDO NA PASSAGEM DE ARNALDO DE VILANOVA
Ouro
tigre leão e prata e crina
te
esperam sob o vaso menstrual
Separarás
primeiro a água e a mina
porque
a Água não é um mineral
No
coágulo te espera areia fina
e
sob a areia planta sideral
que
ao manto do Rei Verde se combina
porque
a Planta não é um vegetal
Ao
homem cabe o Ouro de buscá-lo
E
a sua cria morta ou imortal
tirá-la-ás
do ventre do cavalo
porque
o Homem não é um animal
E
se o espelho de cobre te fascina
se
te aparece o Monstro do Umbral
que
à ignea terra o atro abismo ensina
e
nas trevas afunda o Bem e o Mal
Reduz
expurga fende e ilumina
e
com espada de fogo talha e inclina
porque
o Fogo não é o seu sinal
Mário Cesariny
in “Planisfério e outros poemas”
ADEPTO
ao NS
Nunca morro da morte verdadeira
de que morrem os homens mais comuns.
Perseguido, renasço, intemporal,
sem ter morada certa nem fronteira.
De Júpiter sou filho – e do mistério.
Alberto ou Paracelso – quem me fez
sabe que nenhum túmulo me guarda
e que do amor perpétuo me acrescento.
Contudo, o Tempo dói-me. E, se não caibo
na pedra, a fonte humana me dá luz
(bebi demais no pó sanguinolento,
residual, da obra inteira, a vida).
Cumprido o ouro, louvo simplesmente,
com ele, o Pai. Olvido-me de mim.
Nome não tenho. Nem sossêgo. Ardo.
Feiticeiro não sou, mas aprendiz.
António Luis Moita
in “Cidade sem Tempo”
MUNDO
ao sr. engº Paul Ducoeur
(Fulcanelli)
A
princípio não sabes
e
pensas que sabes
A
seguir sabes
e
pensas que não sabes
No
fim nada sabes
e é então que tudo sabes.
Ainda
que nada
te
fite no rosto
não
há grau nem posto
ao
longo da Estrada
que
não seja gosto
virado
ao desgosto
na
luz ainda errada.
Escada
anti-rosto
estrada
destroçada.
Ou
altivo cão
luminoso
e vivo
no
espaço votivo
desde
o céu ao chão.
Campo
mais que ardido
estepe
ou sertão.
Barca
sem oceano
até
ao minuto
da
hora subida
no
mar aparecida
fecundo
e impoluto.
Máscara
que navega
até
onde chega
o
olho vidrado
do
dragão solene
sereno
e perene
infrene,
postado
no
corpo e no fruto.
Verão
anti-escorbuto.
Soubeste
a princípio
no
meio saberás
no
fim buscarás
a
figura ardente
a
estrela maldita
o
animal silente
a
janela oclusa
a
mão que se agita
desperta
e medita
na
porta doente
que
usa e abusa
do
peito deserto
sangrento
e aberto.
Na
boca fechada
por
prata, ouro e espada.
NS
in “Os objectos inquietantes”
Sem comentários:
Enviar um comentário