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AS INVASÕES FRANCESAS
Nada de novo sob o céu.
A pilhagem dos tesouros do Eufrates teve
nobres antecedentes.
A prestimosa Companhia das Índias
Orientais tinha já mostrado o exemplo.
Antes dela, uma infindável guirlanda de
despojos, coroada de louros
em Roma e de folhas de oliva na Hélade.
É nosso porque o roubámos pelos mais
nobres dos motivos.
Proudhon nada inventou.
Roubo, a propriedade? Talvez sim, o dos
antepassados.
Mas agora é nosso e bem nosso. Não
interfiramos.
Se preciso for o expugnaremos outra vez
com sangue,
com o nosso e sobretudo o dos outros.
E se preciso for voltaremos a roubar, com
os mísseis teleguiados
pela mais fina cibernética.
É certo que Junot se apoderou de grandes
arcas de metal
à sombra da Convenção de Sintra.
Justo retorno? Pois que o Terríbil, o
Albuquerque,
o não tinha feito por menos.
Sempre perdem uns, sempre rapinam outros.
Engravatados, solenemente proclamamos o
legítimo esbulho do pobre,
o sacrílego roer das posses do afortunado.
E o céu, o gratuito céu, o azul profundo,
que nada custa e nada vale,
nenhum testamento o legitima,
e ele aí está magnificente e indiferente
cobrindo
espoliados e espoliadores
a imensa riqueza inútil a desmedida
insuportável miséria
e a fraternidade é essa.
in “Safra do regresso”
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