A censura está de regresso e ninguém protesta?
A
Carta de Direitos na Era Digital abre a porta ao regresso da censura em nome do
combate à desinformação. Esta lei de 2021 tem mesmo passagens quase iguais à
Lei da Censura de 1933, feita por Salazar.
(Dos
jornais)
Eu
protesto. E mais: já de há tempos, aqui neste “Casa do Atalaião”, alertara os
leitores para coisas deste género, noutras áreas, que o Poder tem estado a
incrementar.
Democraticamente,
não me calarei – terão eventualmente de me calar. E acrescento: tal como Bram Stoker,
o autor de “Drácula”, refiro citando-o: há por aí monstros.
Uma Carta contra a desinformação e as fake
news? Óptimo! O problema está em que existem parágrafos suficientemente
ambíguos, ou mesmo desajustados, que nos fazem desconfiar da bondade da mesma,
tanto mais que nem serão os Tribunais, onde se pode exercer o contraditório, a
decidir e sim uma entidade dependente do governo.
O que é, por exemplo, o “interesse público”?
O programa da drª Sandra Felgueiras irá contra ele? E as críticas ao executivo
e ao seu fenomenal chefe também irão?
É
inquietante, pois será a uma entidade dependente da actual gerência e não aos
tribunais, que competirá decidir o que é uma “escrita falsa”. Nas rádios, nos
jornais, nas televisões passamos a estar todos sob escrutínio. Estão também de
volta os tempos da calamitosa auto-censura?
Um rústico é, na minha
perspectiva, aquele em quem, por mais inteligente que seja, a pulsão do poder,
intrínseca ao modo de ser básico, primitivo, se lhe sobrepõe à inteligência, de
modo avassalador, em particular, quando se sente ou julga ameaçado nos seus
interesses, mesmo que só por uma opinião diferente da sua.
O
rústico de maior capacidade intelectual, porém, poucas vezes age directamente,
comandando e utilizando os menos inteligentes como instrumento e escudo das
previstas ou eventuais consequências das reacções à sua acção.
É
deste modo que procedem os chefes maiores de organizações criminosas: os de
menor gabarito ameaçam, eles próprios, a arma visível no coldre; os outros
instruem os capangas, dando-lhes ainda ordens para assumirem a aparência de
respeitável gente séria.
Se
falharem quanto a este último pormenor, serão substituídos por novos esbirros,
devidamente enfarpelados.
Joaquim Simões
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