Depois
Não voltaremos aqui.
As pedras sabem a razão
mesmo nos dias vazios
em que se teriam ouvido
apenas os gritos do silêncio.
Onde estavas
se apenas olhaste
as margens do esquecimento?
O fluxo do desprezo
tem, talvez, a resposta.
Consolação
Já recebemos as nossas duas partes:
sem ruído, a dos mortos
depois a dos vivos
espinhos e silêncio.
Os meses tiveram a sua oportunidade
para instruir a paz,
como se o recém-nascido
tivesse a sua parte do diabo
ou a da esperança.
E depois adquiriu-se o hábito
de esperar o futuro.
Zéralda
Não, nunca mais
a noite interminável
a manhã incerta
uma queimadela
e o barulho seco
dum homem que caía
sem uma palavra na sua sombra
Intervalo
Nós rimos, disse ele,
como podíamos ter chorado
ou simplesmente morrer.
Hoje, não sei,
o silêncio e o esquecimento
fazem uma careta olhando-nos
já tão velhos,
perdidos
para as músicas do dia.
Entre nós
Não podereis contar-me
entre as vossas recordações:
entre nós os barcos
foram muito numerosos,
as estações demasiado frívolas
ou um tanto assassinas.
Deixemos assim ficar na água
as apóstrofes
e as vírgulas.
Tradução de Cristino Cortes
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