quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Jean-Paul Mestas, Cinco poemas

 

Depois

 

Não voltaremos aqui.

 

As pedras sabem a razão

mesmo nos dias vazios

em que se teriam ouvido

apenas os gritos do silêncio.

 

Onde estavas

se apenas olhaste

as margens do esquecimento?

 

O fluxo do desprezo

tem, talvez, a resposta.

 


Consolação

 

Já recebemos as nossas duas partes:

sem ruído, a dos mortos

depois a dos vivos

espinhos e silêncio.

 

Os meses tiveram a sua oportunidade

para instruir a paz,

como se o recém-nascido

tivesse a sua parte do diabo

ou a da esperança.

 

E depois adquiriu-se o hábito

de esperar o futuro.

 


Zéralda

 

Não, nunca mais

a noite interminável

a manhã incerta

uma queimadela

 

e o barulho seco

dum homem que caía

sem uma palavra na sua sombra

 


Intervalo

 

Nós rimos, disse ele,

como podíamos ter chorado

ou simplesmente morrer.

Hoje, não sei,

o silêncio e o esquecimento

fazem uma careta olhando-nos

já tão velhos,

                        perdidos

para as músicas do dia.

 


Entre nós

 

Não podereis contar-me

entre as vossas recordações:

 

entre nós os barcos

foram muito numerosos,

as estações demasiado frívolas

ou um tanto assassinas.

 

Deixemos assim ficar na água

as apóstrofes

e as vírgulas.


Tradução de Cristino Cortes

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