LUPAS
Formam sentido
as palavras
no azul em que
são ditas
sílaba a sílaba,
dadas
à teia tensa da
tinta?
Ou só quando
evaporada
sua túnica
sortílega
acordam desse
letargo,
rangem, sentem,
significam?
São milenária memória,
feitas de saibro
e de cinza,
ou água que se
renova,
laranja que se
imagina?
São, por
enquanto, palavras
sibiladas que
associo
como soldados,
soldadas
numa inocência
de anil.
No ludo – mosto
das horas –
decantam
devagarinho
formando bolhas gasosas
à superfície do
linho.
Uma definha,
outra cresce.
Esta canta,
aquela ri.
Farão sentido
mais tarde
mas não agora ou
aqui.
Para já, são
caravelas
num mar de
espuma de vidro.
Ou lupas.
Através delas,
movido por suas
velas,
viajo, invento,
investigo.
- Como se fossem
janelas
e tu, poema, um postigo.
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