quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Um poema de António Luís Moita

 



LUPAS

 

Formam sentido as palavras

no azul em que são ditas

sílaba a sílaba, dadas

à teia tensa da tinta?

 

Ou só quando evaporada

sua túnica sortílega

acordam desse letargo,

rangem, sentem, significam?

 

São milenária memória,

feitas de saibro e de cinza,

ou água que se renova,

laranja que se imagina?

 

São, por enquanto, palavras

sibiladas que associo

como soldados, soldadas

numa inocência de anil.

 

No ludo – mosto das horas –

decantam devagarinho

formando bolhas gasosas

à superfície do linho.

 

Uma definha, outra cresce.

Esta canta, aquela ri.

Farão sentido mais tarde

mas não agora ou aqui.

 

Para já, são caravelas

num mar de espuma de vidro.

Ou lupas. Através delas,

movido por suas velas,

viajo, invento, investigo.

 

- Como se fossem janelas

e tu, poema, um postigo.


Sem comentários:

Enviar um comentário

Aos confrades, amigos, adeptos e simpatizantes

     Devido a um problema informático de última hora, não nos será possível fazer a postagem desta semana.    Esperando resolvê-lo em breve,...