segunda-feira, 8 de junho de 2020

Dois poemas de Yves Bonnefoy


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À VOZ DE KATHLEEN FERRIER


Toda a doçura toda a ironia se assemelhavam
Por um adeus de cristal e de bruma,
Os golpes profundos do ferro eram quase silêncio,
Velada se volvia a luz da espada.

Celebro a voz mesclada de cor cinza
Que hesita na distância do canto que se perdeu
Como se para além de qualquer forma pura
Tremesse um outro canto e o único absoluto.

Oh luz e negação da luz, oh lágrimas
Sorridentes mais alto que a angústia ou a esperança,
Oh cisne, lugar real na irreal água sombria,
Oh fonte, quando anoiteceu profundamente!

Parece que conheces as duas margens,
A alegria extrema e a extrema dor.
Lá, entre estas canas cinzentas na luz,
Parece ser aí que atinges o eterno.


VIII

Abro os olhos, é sem dúvida a casa paterna,
É mesmo aquela que foi e nada mais.
A mesma pequena sala de jantar cuja janela
Dá para um pessegueiro que não cresce.
Um homem e uma mulher sentaram-se
Diante desta janela de sacada, face a face,
Dirigem-se a palavra, uma vez. A criança
Vê-os do fundo do jardim, olha para eles,
Ele sabe que se pode nascer destas palavras.
Por detrás dos pais a sala está sombria.
O homem acaba de regressar do trabalho. A fadiga
Que foi a única auréola dos gestos
Que foi dado entrever ao seu filho
Separa-o já desta margem.

(Tradução de Luís Serrano)

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